Ser mãe em uma sociedade que desqualifica o trabalho do cuidado é uma tarefa que faz com que as mulheres se esforcem para ver os benefícios por trás da sobrecarga diária. Dentre as possibilidades que buscam desmistificar os desafios da maternidade e acolher as diversas mulheres mães que necessitam conciliar família e trabalho, o Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, realizado pela Associação de Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai), em parceria com a Petrobras e com o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Movimento de Catadoras de Mangaba (MCM), busca desenvolver ações que ajudam a aliviar o peso que a sociedade moderna imputa às mulheres que sobrevivem do trabalho e cuidam de suas crianças.
O projeto desenvolve ações com mais de 400 mulheres artesãs, rendeiras e extrativistas, um trabalho de conscientização e empoderamento, realizando oficinas e espaços de diálogos para garantir não somente a existência e resistência das comunidades tradicionais e dos territórios das mulheres extrativistas, mas também o fortalecimento da autoestima das mulheres que seguem realizando grandes feitos por suas famílias e pelas comunidades de que elas fazem parte.
Mães em Rede
Maria Francisca, filha de Maria das Graças, vive no município de Carmópolis, e faz parte do Projeto. Dona Francisca, como é chamada pelas companheiras, contou sobre a inspiração que buscou em sua mãe para encarar os desafios da maternidade e do trabalho. “Minha mãe vai fazer 80 anos e sempre foi da roça, uma mulher guerreira, trabalhadora, e se hoje eu sou o que sou, também uma mulher da roça e artesã, é porque minha mãe, essa mulher que criou 11 filhos com muita garra, me inspira. É nela que me espelho como mãe e como trabalhadora, minha mãe é o meu exemplo”, disse Maria Francisca.
Assim como Maria Francisca, a rendeira Maria Nivalda, da cidade de Divina Pastora, também se inspirou em sua mãe, principalmente em relação a trabalho, a como buscar ser independente e ter uma vida melhor através de seus esforços. “Minha mãe me ensinou a trabalhar, a ir para a roça, minha mãe significa muito para mim. Atualmente ela tem Alzheimer, e aí ela não me conhece mais, às vezes ela lembra, mas é difícil. Mesmo ela não lembrando, ela me ensinou muito, ela fez muito por mim, e é isso que fica”, relatou Maria Nivalda.
A grande mãe do projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, tia Dilva, destaca que conciliar maternidade e trabalho é difícil para todas as mulheres, são muitas lutas e desafios para que as mulheres consigam fazer a lida diária de casa e fora dela, mas, para tia Dilva, tudo isso é ainda mais difícil para quem perde a mãe. “Eu não tenho mais a minha mãe aqui comigo, e a gente fica emocionada, meio perdida. Eu queria dizer que quem tem sua mãe, dê valor, porque quando a gente perde, é tudo mais difícil. Eu tenho 7 filhos, e agora que entendo mais o que é ser mãe, pois quando eu casei, eu tinha outra cabeça, hoje eu penso de outra forma, penso na importância dos estudos, do trabalho, falo sempre que a gente deve conversar com os filhos, com os netos, para que as novas gerações tenham menos dificuldades”, concluiu tia Dilva.
Políticas públicas para as mães
A existência de políticas públicas para as mulheres garante que as mães possam criar seus filhos e manter a sua autonomia financeira, isso porque a segurança de poder deixar seus filhos e boas creches, por exemplo, facilita para que elas tenham a liberdade de trabalhar e garantir o sustento das famílias. O trabalho do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe é contribuir para que o conhecimento sobre os direitos das mulheres seja democrático, consequência disso é a mobilização nas comunidades na cobrança aos órgãos governamentais para a efetivação das políticas públicas para as mulheres.
Díjna Torres, jornalista do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe e mãe do Miguel de 2 anos, destaca a importância da existência de políticas que facilitem a vida das mães trabalhadoras. “Eu costumo dizer que amo ser mãe, mas odeio como a maternidade é tratada em nossa sociedade, sobretudo no aspecto do trabalho. Eu gostaria que existissem políticas públicas que acolhessem as mães e seus filhos, ou seja, espaços para amamentação em locais de trabalho, possibilidade de ter um ambiente para seu filho, pois nem sempre podemos deixar em outros locais, mais flexibilidade em relação aos filhos quando estão doentes, são alguns dos pontos que eu acho que precisam ser repensados para incluir as mães, ao invés de excluí-las cada vez mais. Nós somos mães, mas também prezamos por nossas carreiras, seria maravilhoso se pudéssemos conciliar os dois sem tantos obstáculos pelo caminho”, disse Díjna Torres.
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