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Mulheres Inspiradoras: Neidiele de Jesus Silva

 

“O projeto Rede contribuiu para que a gente descobrisse que temos asas e a gente está voando alto em tão pouco tempo de parceria. Esperamos que essa parceria continue para que a gente possa voar ainda mais longe.”

 

Neidiele de Jesus Silva tem 25 anos, nasceu na cidade de Siriri e mudou-se para Divina Pastora com 13 anos. Essa também foi a idade em que ela começou a fazer a renda irlandesa, mas já era crocheteira desde os oito anos. O artesanato é uma prática das mulheres de sua família há muitas gerações e a atividade ganha ainda mais significado quando compartilhada com outras mulheres próximas, contribuindo para a continuidade de uma arte milenar.

 

“Eu sou neta e filha de rendeiras, eu aprendi a renda até um pouco tarde se comparado às outras crianças do município e dei continuidade. É uma forma de passar de geração a geração a renda irlandesa e a gente é uma família que está conseguindo transferir esse saber-fazer. A gente faz e a gente repassa para as nossas filhas, incentivando e sem forçar, porque precisamos também amar o que fazemos, e quando a gente faz uma peça com amor, a gente faz melhor. Eu sou servidora pública, agente de desenvolvimento do município, sou Técnica em Administração e estou cursando Pedagogia. Desde 2017 sou proprietária do Ateliê da Neidiele, e ano passado fui contemplada pelo Sebrae como uma das cem melhores artesãs do Brasil. Eu estava de licença maternidade, minha filha só tinha quatro meses e minha irmã, Ariele, me representou lá no Rio de Janeiro e recebeu essa premiação por mim”.

 

Neidiele é uma jovem empreendedora, que aprendeu cedo que a sua autonomia financeira é uma importante ferramenta de emancipação. Junto com outras mulheres do município, criou a Associação de Rendeiras Independentes de Divina Pastora (Asdrin), pensando que, coletivamente, outras mulheres poderiam construir a sua independência. Hoje, Neidiele assume a presidência da Asdrin e acredita que a democracia é o pilar da associação, respeitando os acordos e decisões coletivas, dialogando com as mulheres sobre dificuldades e oportunidades, fazendo uma gestão de solidariedade.

 

“Solidariedade é a gente enxergar o lugar do outro, qual situação a pessoa está, o que a gente precisa fazer para mudar isso, o que a gente pode fazer. É tentar ver de uma forma diferente, porque a gente não sabe o que está se passando na mente do outro, na casa do outro, na vida do outro. Isso eu aprendi bastante e como o nome diz, a Rede Solidária influencia bastante para que a gente tenha essa visão de saber lidar com os nossos problemas, pois a gente não pode transmitir e passar descontando no outro os nossos problemas, a gente também tem que entender que as outras pessoas têm problemas, então a gente precisa sentar, resolver e tentar ajudar da melhor forma possível e estar à disposição para colaborar, para se solidarizar e praticar mais a solidariedade diariamente”.

 

Divina Pastora é a cidade da renda irlandesa, arte desenhada em papel e bordada com o lacê, um cordão sedoso e cada vez mais raro de se encontrar e produzir. A cidade abriga a maioria das arteiras de renda irlandesa do Brasil e, recentemente, teve o reconhecimento da embaixada irlandesa que visitou a cidade e, com o apoio do Governo do Estado, convidou as mulheres de Divina Pastora para um intercâmbio na Irlanda, com o intuito de ensinar a arte que veio de lá, mas que se perdeu com o tempo. São as rendeiras de Divina Pastora quem irão dar o pontapé inicial para resgatar a história e memória do país de origem da renda irlandesa.

 

“Para minha comunidade é de suma importância que a gente consiga preservar a arte da renda irlandesa e desenvolver políticas públicas efetivas que consigam atingir uma maior quantidade de pessoas. A gente sabe que hoje em dia as coisas não estão fáceis, nunca foram fáceis, mas se a gente se acomodar nada vai mudar. Primeiro temos que mudar a nós mesmas para transformar nosso espaço ao redor. Acredito que tudo isso resulta em uma comunidade melhor. Eu tenho um ateliê, que é meu sonho individual e que vou dar continuidade para que ele tenha o merecido destaque, reconhecimento e eu consiga ter estabilidade com isso. Mas eu tenho um sonho coletivo para a Asdrin: que a gente consiga exportar, que a gente consiga ser reconhecida, que a gente se torne uma associação que trabalhe com projetos sociais, que ajude o outro, mas que também se torne uma marca, na qual a gente produza nossas peças e atenda diferentes públicos, que a gente comercialize também, pensando inclusive no meio ambiente, no mundo e nas pessoas”.

 

A renda irlandesa recebeu o reconhecimento de Patrimônio Cultural do Brasil em 2009 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Brasil, e também a certificação estadual de patrimônio cultural e imaterial, em 2019, junto com a aprovação do Dia Estadual da Rendeira, comemorado no dia 15 de julho. Apesar das certificações e reconhecimentos, as rendeiras ainda enfrentam dificuldades na circulação do produto, tendo como desejo coletivo maior visibilidade e exportação das peças.

 

A Asdrin foi inserida no projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe em 2021, recebendo contribuições como cursos de Design, Educomunicação, orientação financeira e de fortalecimento da associação. Foi também com o projeto Rede Solidária que elas tiveram acesso a matéria-prima da renda irlandesa, o lacê. Neidiele costuma falar com carinho sobre as novas oportunidades que a associação passou a visualizar após a chegada do projeto.

 

“A gente precisa pensar que futuramente novas gerações virão. E como é que vai ser? Há séculos existiram mulheres que se assumiram rendeiras, que se orgulham disso e passaram para as gerações e a gente vem repassando. Então a gente também tem que pensar nisso. Inclusive um dos exemplos foi um curso que conseguimos desenvolver com o incentivo da Rede Solidária de Mulheres, a gente conseguiu formar duas turmas de alunos com jovens, com crianças e com adultos, nas quais eles quiseram de verdade aprender e fizeram peças de extrema qualidade. E não só a produção, mas a gente fez aula teórica, relatando a importância da renda. Não adianta você só fazer a renda e fazer de qualquer forma, o que importa, o que interessa na renda irlandesa, qual é o seu objetivo? É só vender e comercializar? Não, tem toda uma história por trás, você vai mudar vidas, você vai repassar o seu saber para várias outras pessoas. Então, tudo a gente leva em consideração”.

 

A Asdrin conta atualmente com 35 mulheres associadas que, como Neidiele costuma dizer, contribuem umas com as outras não só com o trabalho, mas como apoio e suporte em suas vidas. É um espaço de organização, encontro e autocuidado. O projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe contribuiu também com a ampliação do conhecimento das rendeiras da Asdrin, como lembra Neidiele.

 

“Uma das oficinas que marcou muito a associação foi sobre o Dia da Mulher, em que a gente conheceu as leis, os direitos da mulher, porque aqui a gente precisa lutar pela representatividade feminina. Eu sei que a gente precisa mudar o Brasil, precisa mudar o mundo e precisa mudar a gente. Então o projeto veio e abriu isso, e aí vem também a questão do empreendedorismo que o projeto contribuiu. A gente diariamente trata disso, a gente produz uma peça, mas a gente também precisa do retorno financeiro da peça, não é só uma questão da terapia. Então, a gente teve um norte sobre o que o nosso cliente quer, aulas que aprendemos sobre a apresentação de um produto, como contar nossa história através das peças. O projeto ajudou bastante e esse não é só um relato meu, mas de várias rendeiras do grupo aqui. Não houve só o incentivo com as ações sociais, mas também com o que vamos transmitir para o cliente a partir da nossa peça, do nosso produto, o que eu quero que ele sinta, o que eu depositei naquela peça, aonde eu quero chegar. Tudo isso o projeto Rede Solidária nos ajudou. O projeto Rede contribuiu para que a gente descobrisse que temos asas e a gente está voando alto em tão pouco tempo de parceria. Esperamos que essa parceria continue para que a gente possa voar ainda mais longe”.

 

 

Recado de Neidiele para as mulheres:

“Meu recado para as mulheres é que elas se empoderem. Uma mulher empoderada, decidida e consciente dos seus direitos conquista o mundo”.