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Mulheres Inspiradoras: Elisana Santos

Eu sempre falo que poucas pessoas têm esse privilégio de ser professora e acompanhar a formação completa de seus alunos. Eu tive esse privilégio em minha profissão”.

 

Elisana dos Santos Silva tem 56 anos, nasceu em Candeias, na Bahia e foi morar em Carmópolis aos seis anos. Estudou em Aracaju e visitava a cidade aos fins de semana, seu pai foi um dos primeiros petroleiros a trabalhar em Carmópolis. Cursou licenciatura em História, e se tornou funcionária pública aos 18 anos. Trabalhou 20 anos como coordenadora e diretora na Escola Poeta José Sampaio e 2 anos e meio no Colégio Estadual de Educação Profissional Governador Marcelo Déda Chagas. Está aposentada há quatro anos. Durante sua trajetória de ensino, tanto na parte administrativa, quanto em sala de aula,  pôde ter momentos que ela leva para sempre no coração.

 

“Eu sempre falo que poucas pessoas tiveram o privilégio que eu tive. Quando assumi em 1997 no Poeta José Sampaio, tive alunos da quinta série, que reencontrei na Escola Técnica e fiquei bem emocionada. Quando entrei na sala, que dei boa noite, achei que tinha voltado ao passado porque a maioria era meus alunos. Eu vi a formação deles no ensino fundamental, no ensino médio, aí acompanhei na Escola Técnica e me aposentei junto com o encerramento do ciclo escolar deles. Poucas pessoas têm esse privilégio na vida, você poder acompanhar toda a vida acadêmica de seus alunos. Me senti gratificada”.

 

Outro privilégio para Elisana é poder ter crescido com mulheres incríveis. Seu pai casou-se três vezes, sua mãe foi a segunda esposa e ela considera a terceira esposa do seu pai, com quem foi morar ainda jovem, como uma mãe. “Eu chamo as duas de mãe. Eu fui criada por dona Dete e ela dizia que eu tinha que chamar também minha mãe Lourdes de mãe. Mas eu não me sentia à vontade de chamar minha mãe biológica de mãe porque eu não convivi com ela. Eu tinha contato com ela, mas não fui criada por ela. Então, eu não achava justo chamar minha mãe que não me criou de mãe, e dona Dete que me criou, pelo nome. Então eu brincava, chamava as duas de dona. Dona Dete e Dona Lurdes. Até hoje eu chamo, mas de vez em quando eu chamo de mãe, peço a benção às duas. Só tenho a agradecer a Deus, pois acho que fui muito privilegiada”.

 

Elisana lembra de como conheceu seu marido, ela brinca que ele ficava com um guarda-chuva em frente ao colégio onde ela trabalhava. Namoraram por pouco mais de um ano e quando se casaram foram morar no Assentamento Palmeira, onde o pai de seu marido era assentado. Eles arrumaram a casa e começaram a vida de casados ali. Ainda faltava algo importante para Elisana: um filho. Após dez anos de casados, ela resolveu começar o caminho para a inseminação artificial, mas se assustou com os valores.

 

“Na época eram 13 mil reais, aí eu disse a ele que ia vender meus dois bezerros e ia lá no meio do ano, em junho, o médico era de uma equipe de Salvador. Aí por mais uma graça, no final de abril, eu engravidei. Juninho nasceu em dezembro e o dinheiro que a gente ia usar para a inseminação, a gente aumentou a casa para fazer o quarto dele. E de lá para cá, Juninho dividiu a mamãe com o José Sampaio, com a escola. Sempre no corre corre, até que fui para a Escola Técnica, e diminuí o ritmo, porque no Sampaio era muito mais agitado. Na Escola Técnica eu fiquei com uma turma que a maioria era de adultos, que eu já conhecia, o ritmo era menor, a escola tinha menos turmas. No Sampaio tinham 30 e poucas turmas, na Técnica eram 3, 4 turmas, era bem mais reduzido”.

 

O pai de Elisana, seu Raymundo Silva, era muito conhecido na cidade de Carmópolis, sendo convidado até para ser prefeito do município, convite que ele não aceitou e Elisana considera que foi uma decisão acertada do pai. Ela lembra que viu Carmópolis passar por muitos altos e baixos econômicos, com a chegada da Petrobras na cidade, viveram a “época de ouro”, com a geração de empregos e a circulação de renda no município.

 

“Eu conheci Carmópolis naquela fase que a Petrobras chegou aqui, que estava começando, peguei várias fases da cidade, quando iniciou, quando teve seu auge, tinha um movimento de muita gente, o comércio bem tranquilo. De 2016 para cá, a Petrobras foi desacelerando e Carmópolis também, e depois da pandemia, o fluxo diminuiu muito. Muita gente desempregada, inclusive meu marido que já tem sete meses que está desempregado. Uma média de quatro mil pessoas que saiu daqui para buscar emprego fora, levou a família e tudo. A gente vê a subida, a descida. Carmópolis era a prima rica e agora deu aquela queda. Carmópolis tem muita cultura. A festa de Nossa Senhora do Carmo é o marco para os carmopolitanos, porque todo mundo fica com a ansiedade para chegar à festa, porque tinha os shows e a procissão, que é um marco da festa. Um dia desses teve uma festa em Aguada e os bacamarteiros vieram para cá e entraram na igreja tocando e dançando, e eu achei tão interessante, que quando eles entraram, duas senhorinhas que estavam ao meu lado levantaram e começaram a sambar, eu achei tão lindo. É o sangue da cultura”.

 

Com a chegada do projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe a Carmópolis, em 2018, o Assentamento Palmeira organizou suas mulheres para receber os cursos. Elisana cedeu parte do terreno de sua casa para a construção do viveiro de mudas. A relação de Elisana com as plantas começou através de uma amiga, Isabel, que a ensinou como cuidar de rosas do deserto. Hoje, seu quintal tem o colorido das flores e ela lembra com carinho da amiga que foi uma das vítimas da Covid-19.

 

“A minha relação com as plantas vem de uma herança de uma amiga, Isabel, ela também fez parte do Projeto Rede. Ela tinha uma coleção de rosas do deserto, inclusive a primeira rosa do deserto quem me deu foi ela. Eu comecei a gostar através dela, que me ensinou a fazer polinização, enxertar. Quando ela faleceu, durante a pandemia, foi uma perda muito grande. Ela me ensinou a gostar de plantas, a cuidar. Eu tinha muito mais, é que dei mais plantas e parei um pouco de produzir a polinização. Hoje eu tenho também as orquídeas, que são mais complicadas de cuidar do que as rosas, mas é um momento de prazer e saudade toda vez que tiro um tempo do meu dia para cuidar das plantas”.

 

Recado de Elisana para as mulheres:

Meu recado para as mulheres é que a gente deve viver, porque o tempo passa muito rápido, a gente nunca sabe se daqui a pouco estaremos aqui presentes. É viver e aproveitar cada momento. É claro que se a gente puder fazer planos, a gente tem que fazer, temos que ter as nossas metas, senão nossa vida perde o sentido, mas lembrando de viver o presente porque é através do presente que a gente vai alcançar nossas metas.