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Projeto Rede promove experiência de aprendizado com intercâmbio em Uauá, na Bahia

 

Entre os dias 04 e 07 de maio, cerca de 20 mulheres do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, realizado pela Associação das Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai) com a parceria da Petrobras e apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS), partiram para a cidade de Uauá, no estado da Bahia, para o intercâmbio com a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá – Coopercuc-Gravetero.

 

Na programação, visita à Coopercuc para conhecer a sua história de formação, da experiência das pessoas que realizam o trabalho, da instalação da agroindústria e das estratégias comercias da cooperativa; visita à AgroCaatinga que tem a Dona Perpétua e Seu José como guardiões dos conhecimentos tradicionais do local; e visita às comunidades Testa Branca e Lages das Aroeiras para conhecer as Unidades de Laticínio, de Temperos, e de Gelados Comestíveis.

 

 

Já no primeiro dia, as mulheres foram recepcionadas na Coopercuc por Carlinhos e José Milton, gerente financeiro e responsável pela produção. Em uma roda de conversa, eles fizeram uma apresentação com resgate histórico do início da cooperativa, explicando como se deu o processo de organização e de trabalho. O que despertou a curiosidade das mulheres, possibilitando um diálogo aberto a dúvidas e compartilhamento de conhecimento entre elas.

 

“A visibilidade nacional internacional que hoje a Coopercuc tem é fruto de uma trajetória de muita luta, semelhante com a nossa história enquanto catadoras de mangaba. Conhecer tudo isso de perto foi muito rico. Construímos momentos de troca de conhecimento e aprendizado, diante de um trabalho que foi feito nos últimos anos também para o fortalecimento das comunidades. Foi muito prazeroso ter essas trocas e ver as semelhanças e potências que temos com as pessoas que fazem a Coopercuc”, disse Patrícia Santos, turismóloga, mestra em Meio Ambiente, catadora de mangaba e instrutora da Rede em Turismo de Base Comunitária.

 

 

Para Maria Eugênia, artesã e moradora de Carmópolis, o que mais marcou a visita à Coopercuc foi o acolhimento. “Lá as pessoas receberam a gente de um jeito incrível e através desse acolhimento a gente consegui ver a organização deles, o trabalho que eles fazem com muito cuidado. O aprendizado foi enorme. Aperndi coisas que eu não sabia fazer, como novas formas de fazer geleia e licor. Foi incrível conhecer outras pessoas com outras culturas, outros aprendizados. Eu estou feliz de ter participado do intercâmbio”, contou.

 

Na AgroCaatinga, as mulheres foram guiadas por Taiane, técnica agrícola, e os agricultores familiares Dona Maria Perpétua e Seu José. A catadora de mangaba, Tainara Nascimento, contou que a Dona Perpétua falou sobre a conscientização da preservação da caatinga, dos umbuzeiros e do amor que ela tem pelo trabalho e pela região em que vive.

 

 

“Ela nos mostrou o sistema de irrigação por gotejamento que facilitou e melhorou o desenvolvimento das plantas, hortaliças e árvores frutíferas, falou também sobre os inseticidas naturais que elas faz para manter as pragas distante do cultivo, da importância de colocar produtos da agricultura familiar na merenda escolar, através das políticas públicas para os agricultores famílias como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)”, contou.

 

“Ela também ressaltou o tempo todo a importância da união entre as comunidades e as mulheres que estão inseridas no projeto, contou que o sistema de agrocaatinga foi criado para subsistência, mas que quando a colheita é boa elas vendem para garantir outros alimentos que não cultivam. Dona Perpétua é com certeza uma guardiã da caatinga e uma replicadora do saber popular”, completou Tainara.

 

 

O intercâmbio também proporcionou verdadeiros encontros de almas. É o que diz Valdiene Vieira, moradora do Povoado Aguada, no município de Carmópolis. “De tudo eu que vi e vivi no intercâmbio, conhecer Dona Perpétua foi de um aprendizado maravilhoso que certamente levarei para a minha comunidade. Quando Dona Perpétua falava eu via a minha avó, foi uma coisa muito forte, nãp consigo nem explicar. A energia dela vem daquela terra e dava para ver o amor dela pela terra só pelo jeito que ela falava da técnica que elas desenvolveram e que usam lá. Foi tudo muito lindo. Eu só espero que a gente consiga aproveitar e implementar todo o conhecimento que ela passou”, afirmou Valdiene.

As mulheres da Rede também puderam conhecer o Viveiro de Mudas e a Unidade Produtiva que atende à Coopercuc, em uma importante troca de conhecimentos e experiências que deram certo.

 

Dona Maria Rosana, do Assentamento São Sebastião, localizado no Povoado Alagamar em Pirambu, relatou que o intercâmbio foi de grande importância. “Eu tive a oportunidade de conhecer a Coopercuc logo no início de sua formação e estou impressionada no que eles se transformaram. Espere que um dia a gente consiga ter essa mesma estrutura e competência que eles têm aqui. Aproveito para dizer que amei esse intercambio, para mim foi de grande importância ver o modo como eles trabalham e pensar como nós podemos trabalhar na nossa associação”, afirmou.

 

Para Mirsa Barreto, coordenadora do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, o intercâmbio cumpriu com o seu objetivo de ampliação do conhecimento, do aprendizado, da troca e do compartilhamento de experiências.

 

“Eu fico extremamente feliz de perceber o quanto as mulheres da Rede aproveitaram e gostaram de tudo que o intercâmbio ofertou para elas. Foram três dias intensos de aprendizados múltiplos, de escuta de histórias que se assemelham às histórias delas, dias de entender os processos e técnicas de vendas, de funcionamento e organização do trabalho coletivo. Mas, sobretudo, dias de reafirmação dos nossos laços de solidariedade, de nossos princípios de coletividade”, disse.

 

 

Sobre a cooperativa

 

A Coopercuc foi criada no ano de 2004, por agricultores familiares, com maioria de mulheres, inicialmente com 44 cooperados. Mas a história da COOPERCUC começa mesmo em 1986, quando vinte mulheres se reuniam para preparar, de forma artesanal, produtos do umbu. Posteriormente criou-se o grupo Unidos do Sertão, que agregava cerca de 30 comunidades, envolvendo mais de 100 pessoas. A produção do grupo era levada para comercializar nas feiras dos municípios. O município de Uauá recebeu a primeira barraca de venda dos produtos. O trabalho dessas famílias recebeu um aporte financeiro em 1999, com a aprovação do Programa de Convivência com o Semiárido (PROCUC). O recurso possibilitou ampliar o número de pessoas e comunidades envolvidas no trabalho de beneficiamento e comercialização.

 

Atualmente, conta com 270 cooperados, sendo 70% de mulheres e 20% de jovens, sendo hoje uma referência no trabalho voltado para o beneficiamento de frutas nativas do Semiárido, como o umbu e o maracujá da Caatinga, por agricultores familiares dos municípios de Canudos, Uauá e Curaçá, na região semiárida baiana. Com um volume de produção anual de 800 toneladas, a cooperativa é responsável por fabricar doces, geleias, compotas, cervejas, entre outros produtos. A Coopercuc é reconhecida nacionalmente e internacionalmente pela sua presença nos mais variados mercados, levando produtos do bioma da Caatinga e garantindo condições mais dignas no semiárido baiano.