O Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, realizado pela Associação de Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai), em parceria com a Petrobras e com o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Movimento de Catadoras de Mangaba (MCM), desenvolve com mais de 400 mulheres um trabalho de conscientização e ação de preservação previsto no Programa Petrobras Socioambiental, realizando oficinas e espaços de diálogos para garantir a existência e resistência das comunidades tradicionais e dos territórios das mulheres extrativistas.
A proposta do Projeto inclui a realização de ações que possam emancipar as mulheres que constroem a Rede Solidária de Mulheres de Sergipe e também as comunidades onde elas estão inseridas. Uma das áreas de atuação do Projeto é o povoado Aguada, em Carmópolis, onde a luta pela preservação ambiental e da cultura local é constante.
“A natureza precisa de nós, mas nós precisamos muito mais da natureza”, foi com essa frase que Valdiene Vieira, natural de Carmópolis, filha de Dona Anailde e de Seu Manoel Francisco, contou sobre a importância do trabalho das mulheres para a preservação ambiental dos municípios e povoados que elas atuam.
Nascida e criada dentro do Grupo Batalhão de Bacamarteiros, do Povoado Aguada, Valdiene é mãe de seis filhos e faz o alerta para que todas e todos colaborem para preservar as matas e a restinga, com o objetivo de garantir a nossa própria existência.
“O planeta está morrendo e poucas pessoas estão fazendo alguma coisa, como é o nosso caso, mulheres negras, artesãs, mangabeiras, pescadoras. O trabalho que a gente faz aqui na comunidade é uma batalha difícil, porque precisa mudar a mente das pessoas, mostrar que se os rios, as matas morrerem, a gente também morre. Mas, a nossa horta e o trabalho de reciclagem estão ajudando muito a comunidade, porque é um aprendizado que não levamos só para nós, mas para nossas famílias e para a comunidade inteira”, contou.
Dilva de Souza Santos, presidente da Associação de Catadoras de Mangaba de Manoel Dias (Ascamade), ou simplesmente tia Dilva, acredita que as mangabeiras são muito mais do que árvores cujos frutos dão a renda para as mulheres, elas são parte de uma identidade da comunidade, parte da vida, da história de todas as mulheres e suas famílias que utilizam a mangaba e seus derivados para viver e sobreviver.
“A nossa luta é constante, a gente luta contra as queimadas aqui na nossa região, e estamos mobilizando a comunidade para que ninguém corte as mangabeiras e nem façam mais queimadas. Mas precisamos também de um trabalho de conscientização para a população reconheça os benefícios da mangaba, trabalhar também de maneira responsável, sustentável, pois é a mangaba que nos dá tudo que temos, então é preciso aprender a preservar”, disse.
Luta coletiva
Preservar o meio ambiente não é um dever individual ou de grupos específicos que trabalham diretamente com o plantio, cultivo e colheita de alimentos. A preservação da natureza é um dever de toda a sociedade, uma vez que ela se beneficia integralmente de tudo que vem dela.
É com esse pensamento de luta coletiva que Maria Rosana, do povoado Alagamar, em Pirambu, ressalta a importância da união para fortalecer a preservação. “Em Alagamar tem o rio, o brejo e o pessoal preserva. Antes era mais preservado porque o pessoal limpava, hoje deixam por conta da própria natureza, e a gente não pode pegar mais água, porque a água já não presta mais”, afirmou.
Maria Rosana pontua que apesar de cada pessoa preservar seu lote, é preciso pensar de forma coletiva, pois foi por conta do desmatamento individual que toda a comunidade foi prejudicada. “Lá é assim, cada um preserva o lote que toma conta e isso fez com que houvesse muito desmatamento, a nascente morresse, virasse lama. Mas, temos uma área que é comunitária e todo mundo preserva para que ninguém faça bagunça, graças também à ação do Projeto, que nos traz esse incentivo através das oficinas, das visitas”, concluiu.
Dia Internacional das Florestas
O dia 21 de março foi instituído pela ONU em 2012 como o dia de conscientização da população mundial sobre a importância de preservar e cuidar dos biomas e das florestas. Dentro do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, as oficinas de agroecologia são também uma forma de diálogo com as mulheres sobre a preservação das matas e biomas existentes nos territórios.
As mulheres extrativistas são reconhecidas por uma batalha incansável pela preservação dos territórios que são invadidos pelas grandes empresas e pela especulação imobiliária, deixando diversas famílias sem o seu sustento, poluindo o meio ambiente e privatizando as áreas de mangabeiras, por exemplo.
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