A primeira Mostra de apresentação de produtos oriundos do extrativismo da mangaba, de outras frutas da restinga e da palha de Ouricuri foi realizada na quinta-feira (11) que antecedeu o dia das mães, na sede do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, em Aracaju. Intitulada de “Mostra Ouricuri: artigos de decoração e gastronomia”, o evento foi desenvolvido a partir das mulheres do povoado Alagamar, que se dedicaram à confecção das peças em palha, trabalhando em uma lógica de coletividade feminina e das mulheres que trabalham na produção dos alimentos em Carmópolis, Estância, Japaratuba, Indiaroba e Barra dos Coqueiros.
Na ocasião, a casa foi especialmente montada para apresentar ao público, de forma gratuita, os objetos como tapetes, sousplat, bolsas, almofadas, mesa de centro, cestos, lustres e outros produtos feitos a partir da palha do Ouricuri, que fazem parte das coleções Mandalas e Mescla desenvolvida pelas mulheres durante as oficinas de design em palha. Paralelamente, os visitantes puderam degustar os produtos feitos com a mangaba e outras frutas e que também estavam disponíveis para a comercialização.
A professora e designer, Dany Queiroz, realizou experimentos e estudos junto às mulheres com novos materiais, acabamentos e precificação das peças, com o intuito de elaborar as duas coleções que foram apresentadas ao público durante o evento. “Eu fiz a introdução da metodologia circular, que permite que durante as etapas do feitio, a gente possa analisar, voltar, melhorar e seguir. Para mim, a Mostra foi um momento muito significativo, por conta da visibilidade que as mulheres tiveram e serviu também para reafirmar que elas podem ter autonomia sem precisar de atravessadores, elevando a autoestima e o empoderamento que trabalhamos com elas aqui no projeto”, disse.
Para uma das artesãs responsáveis pela confecção dos produtos, Maria Rosana, do povoado Alagamar, a Mostra representou a materialização e valorização de um trabalho desenvolvido durante meses e de maneira coletiva entre as mulheres. “Eu fiquei muito feliz quando vi tudo arrumado, nossos produtos sendo exibidos da maneira como eles merecem, os convidados elogiando, as pessoas fazendo encomendas, foi de muita emoção porque é um trabalho que muitas vezes não é valorizado e o projeto, através da Mostra, fez com que a gente sentisse o nosso trabalho devidamente reconhecido, como ele tem que ser”, afirmou Rosana.
A estilista sergipana Rafaela Castro aproveitou a oportunidade para realizar encomendas e estreitar laços com as artesãs de Alagamar, as Catadoras de Mangaba e as mulheres de Carmópolis. “Eu fico muito feliz em ver eventos como a Mostra, onde quem faz tem protagonismo. Amei conhecer as mulheres de perto e a forma que elas se organizam e se fortalecem juntas. O olhar para mostrar muitas formas de consumir os produtos foi maravilhoso. Espero que seja um evento fixo e que cresça muito”, finalizou.
Além do público em geral que esteve no espaço para conhecer os produtos ou que já conheciam e foram prestigiar as mulheres, passaram pela mostra chefes de cozinha, arquitetos, estilistas e representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), da Secretaria Especial do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem) e do Senac Sergipe.
Gastronomia das Mulheres da Rede
Além da exibição dos produtos da palha do Ouricuri, as mulheres apresentaram ao público a variedade de pratos que podem ser feitos a partir do extrativismo da mangaba e de outros frutos da restinga sergipana. “Tudo que trouxemos foi vendido, isso foi surpreendente! As pessoas degustavam os nossos produtos, nossas geleias, licores, bombons, biscoitos e se encantavam com o sabor, não é à toa que antes do fim da Mostra, a maioria dos produtos já tinha esgotado. Para nós, é de grande emoção e mostra a importância do nosso trabalho”, celebrou a confeiteira e catadora de mangaba, Silvana Correia, do povoado Capuã, município de Barra dos Coqueiros.
Para o cozinheiro e nutricionista Samuel Benson, eventos como a Mostra merecem destaque em Sergipe, pois valorizam as histórias de quem realiza todo o trabalho a partir da base. “A Mostra Ouricuri trouxe a oportunidade de conhecer as mulheres que estão por trás do trabalho desenvolvido com a mangaba e a palha de ouricuri. Estreitar esse laço é importante para o reconhecimento, e, de certa forma, diminui a exploração das trabalhadoras. Sergipe é culturalmente rico, conhecer quem está nos bastidores agrega valor ao que é produzido e consumido”, ressaltou.
De acordo com Mirsa Barreto, coordenadora geral do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, todo o mérito do sucesso da mostra vem da história de força das mulheres. “As catadoras de mangaba são reconhecidas em todo o estado e até fora dele, essa união com as mulheres que produzem peças com a palha e que também são catadoras só vem fortalecer ainda mais esse caminho de orgulho e competência que elas vêm trilhando. As pessoas vieram aqui para vê-las e nosso Projeto é mais um instrumento que não vai medir esforços na busca pela valorização delas e de seus territórios”, declarou Mirsa Barreto.
A Mostra Ouricuri foi uma iniciativa das mulheres do Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, realizado pela Associação de Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai), em parceria com a Petrobras e com o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e do Movimento de Catadoras de Mangaba (MCM), que desenvolve com mais de 400 mulheres um trabalho de conscientização e ação de preservação previsto no Programa Petrobras Socioambiental, realizando oficinas e espaços de diálogos para garantir a existência e resistência das comunidades tradicionais e dos territórios das mulheres extrativistas.
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