Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Search in posts
Search in pages

Mulheres do projeto Rede Solidária e a valorização das manifestações culturais sergipanas

 

As manifestações culturais sergipanas são um verdadeiro patrimônio imaterial do nosso estado. Em todas as regiões, brincantes com suas cores, suas danças, seus cantos e seus encantos celebram a diversidade e os elementos que carregam identidades que atravessam o tempo e a história. O Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, realizado pela Associação de Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai), em parceria com a Petrobras e com o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS), traz histórias das mulheres e brincantes que fazem parte da Rede e celebram com orgulho as suas trajetórias em seus grupos.

 

No povoado São José, em Japaratuba, Marilene dos Santos Moura, mestra do reisado, resgata  a história do grupo e a sua importância para a preservação da cultura local. “O Grupo Reisado de São José foi resgatado no ano de 2000, pelas brincantes Vilma, Marilene e Jerusa, e um grupo de alunos da Escola Municipal. A nossa caminhada foi muito difícil porque a gente não tinha ajuda para manter o grupo, então a gente ganhou um projeto lá para 2010, mais ou menos. Depois desse projeto, a gente comprou bastante coisa para dar mais um brilho à nossa brincadeira. Graças a Deus, hoje a gente está bem arrumadinha, estamos preparadas para ir para qualquer lugar”, disse.

 

Para quem ainda não conhece, o Reisado é uma manifestação cultural que ocorre de dezembro a janeiro, acompanhada pelo som da zabumba, do triângulo e da sanfona e está relacionada às comemorações dos reis magos e ao nascimento de Jesus. O grupo de São José conta atualmente com 20 componentes, e Marilene conta que, apesar de ser uma dança do período natalino, o grupo se reúne para brincar em qualquer dia. “Começamos como uma brincadeira e hoje já estivemos em vários lugares dentro e fora de Sergipe mostrando a cultura de nosso povoado”, celebrou, Marilene.

 

Reisado do Povoado São José (Arquivo pessoal)

 

Seguindo para mais perto do rio São Francisco, no leste sergipano, o povoado Mundéu da Onça, em Neópolis, também tem grupo de Reisado e outras manifestações culturais. Maria Elizete, se orgulha em contar que, além do Reisado, o povoado tem o Samba de Coco e o Guerreiro, e ela faz parte dos três grupos. “Eu brinco nos três. Gosto de todos, é uma forma de diversão, de ficar alegre. Música e dança é alegria e desde que eu me entendo por gente, já existia aqui e a gente já brincava. Para nós, não tem época para brincar, mas as apresentações o pessoal pede mais na época de junho”, contou.

 

A presidente da Ascamai, Alicia Salvador, destaca que é muito importante a valorização da cultura nas comunidades, como forma também de trabalhar a questão do empoderamento feminino. “Em nossa comunidade temos a cultura do reisado, uma tradição de anos que envolve toda a comunidade com cantorias e danças tradicionais, e esse envolvimento é também uma maneira de fortalecer as tradições e valorizar a força da mulher nos processos de preservação da cultura de nosso território”.

 

Cultura e empoderamento

 

Como Alicia Salvador mencionou anteriormente, a cultura é uma ferramenta muito importante não somente para a preservação da história e memória, como também para a promoção do empoderamento e autonomia das comunidades. Maria Angélica dos Santos, do povoado Flexeiras, em Santo Amaro das Brotas, relata a existência do Drama e da Pisadinha como características do local e como duas manifestações que resgatam histórias através das narrativas entoadas no violão, com o objetivo de preservar as memórias do povoado, fortalecendo a comunidade.

 

“O Drama, eu não sei como surgiu exatamente, mas foi através de um livro que foi escrito aqui, na mão, com histórias da comunidade, é como se fosse um teatro cantado, encenado e tocado. Já a Pisadinha surgiu a partir do grupo do reisado, que também tem aqui. Quando a gente voltava do reisado, a gente se reunia e dançava a Pisadinha, e aí o reisado virou a Pisadinha, onde, assim como no Drama, todo mundo participa, mulheres, crianças, homens, contando e dançando a nossa história e nos divertindo com alegria”, ressaltou, Angélica.

 

Assim como o Drama e a Pisadinha são manifestações que contam a história de um povoado, a comunidade de Aguada, no município de Carmópolis, também apresenta manifestações peculiares de Sergipe, que representam a história de um período de libertação, retratando a força da mulher preta como protagonista e a força e resistência da população quilombola, a exemplo do Samba de Aboio.

 

Para Valdiene Vieira, do povoado Aguada, a diversidade que existe em cada comunidade e em cada mulher é o que fortalece e promove o empoderamento das mulheres e de suas culturas. “Eu sou bacamarteira desde muito jovem, mas eu também sou tantas outras coisas, a exemplo de integrante do grupo Samba de Aboio, que foi fundado por uma mulher preta africana e segue desde então, sendo conduzido por mulheres. Há a participação dos homens, mas o protagonismo é das mulheres pretas, e eu me orgulho muito em fazer parte de manifestações culturais que vem de minha família, que vem do povo preto quilombola”.

 

De acordo com Mirsa Barreto, coordenadora do projeto, a valorização da cultura e identidade de cada comunidade é uma forma de preservar a história e a memória de seus territórios. “As manifestações culturais são uma forma de contar a história das comunidades e, vale destacar, que a maioria delas é formada e conduzida por mulheres, que estão à frente na valorização da cultura e da identidade de seus territórios, o que é também um dos objetivos do projeto: a defesa e a preservação dos territórios a partir da auto organização das mulheres”, concluiu.