Na última quarta e quinta-feira, dias 16 e 17, o Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, realizado pela Associação das Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai) com patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, promoveu o encontro de 12 mulheres, representantes de comunidades tradicionais do norte e sul do estado, durante seminário para elaboração de um ‘Roteiro de Comercialização’ com base no turismo comunitário.
O seminário marca o inicio do processo de mapeamento de lugares com potencial para comercialização e possibilidade de implantação do turismo de base comunitária. Segundo Mirsa Barreto, coordenadora do projeto Rede, essas duas ações podem alavancar a economia local, garantindo sustentabilidade para as comunidades e autonomia financeira para as mulheres.
“O turismo de base comunitária é o tipo de turismo que a comunidade se organiza e presta serviços para os visitantes. Nós estamos propondo que, através da auto-organização das comunidades tradicionais onde o projeto atua, o turista tenha uma experiência a partir da realidade desses moradores, comendo o que eles plantam, colhem e comem, dormindo na casa deles, passeando e tendo contato com a singularidade e a riqueza do conhecimento tradicional”, explica Mirsa.
Para Alicia Morais, presidente do Movimento das Catadoras de Mangaba de Sergipe – extrativista e moradora de Pontal, povoado de Indiaroba -, a construção do roteiro de comercialização e a atuação do turismo de base comunitária farão bem para a economia das comunidades. Mas, ela alerta que é preciso tomar cuidado para que a natureza seja preservada e que as pessoas fiquem felizes.
“O uso dos recursos das comunidades, por exemplo, deve ser feito de maneira ambientalmente responsável e a comercialização dos nossos produtos, e de tudo que envolve a cadeia produtiva do turismo comunitário, deve ter custos socialmente justos”, disse Alicia.
O Projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe tem atuado, desde abril de 2018, promovendo oficinas artesanais e cursos profissionalizantes, com o objetivo de incentivar a economia criativa e solidária, através de ações de educação para o trabalho, tais como: agroecologia, processamento de alimentos e boas práticas, educomunicação, maquiagem social, reciclagem, corte e costura, crochê, bordado, macramê, informática, cuidador de idosos, e rotinas administrativas. Além de seminários de formação para ampliar o conhecimento e a organização delas em uma rede de comercialização e solidariedade.
Aproximadamente 600 mulheres estão cadastradas no projeto, distribuídas pelos municípios de Indiaroba, Estância, Barra dos Coqueiros, Japaratuba, Pirambu e Carmópolis.
Para Dona Maria Francisca, artesã e moradora de Carmópolis, o seminário abriu o seu olhar para possibilidades até então desconhecidas. “O turismo de base comunitária é algo novo pra mim, mas pelo o que eu vi aqui é também possível de dar certo se a gente se organizar e conseguir envolver a comunidade, mostrando nossos talentos. E com isso todos tendem a ganhar”, acredita.
Julcimara Florípedes, guarda municipal e moradora de Carmópolis, concorda com Dona Maria Francisca. “Eu acredito que pode sim dar certo porque somos um povo que tem história, inclusive com manifestações culturais que só existem em Carmópolis, a exemplo do samba de aboio. O maior desafio é mobilizar a comunidade, engajar todos no projeto para então atrair o turista. Com isso, a gente consegue fortalecer a rede de mulheres, a economia local e a cultura da nossa gente”, defende.
A positividade contagiou a todas as mulheres presentes no seminário. Silvana Correia, catadora de mangaba do povoado Capuã, na Barra dos Coqueiros, por exemplo, sabe que o turismo de base comunitária já é uma realidade em várias comunidades e acredita que “em Capuã pode dar certo também”.
“Estou muito ansiosa para que o que planejamos aqui [no seminário] possa acontecer logo, porque acho que vai ser bom pra gente [catadoras de mangaba] e pra toda a comunidade”, assume Gilvânia Maria, catadora de mangaba e moradora de Ribuleirinha, em Estância.
Já para Silvânia Felizardo, moradora do assentamento São José, em Carmópolis, todas as ações do projeto voltadas para a discussão da economia solidária fortalecem também a autonomia das mulheres, diante da desigualdade de direitos imposta às mulheres. “Eu sou apaixonada por Ipê. Perto da minha casa tem um Ipê, e morro de medo de alguém ir lá e cortar, especialmente nessa época que ele está lá cheio de flores, todo amarelinho, bem bonito e livre. Queria dizer que quando estou com as mulheres da rede, nas oficinas, nos cursos e nas formações, eu me sinto como o Ipê: bonita, solta, livre, na paz, brilhando junto com as meninas”, confessa.
Sustentabilidade
A jovem Roseane dos Santos, catadora de mangaba e moradora do povoado Porteiras, em Japaratuba, prevê até o fortalecimento da luta ambiental com a implantação do turismo comunitário. “Estão cortando as nossas mangabeiras para plantar cana-de-açúcar, estamos correndo o risco de extinção da nossa atividade extrativista. Mas, ações como essa nos incentiva a continuar lutando pelas mangabeiras, que são nosso sustento, nossa vida”.
Já Valdiene dos Santos, pescadora e moradora do povoado Aguada, em Carmópolis, disse já ter compreensão do que a natureza passava, mas ficou especialmente espantada com o que ouviu das colegas durante o seminário. “A gente precisa urgentemente cuidar da natureza e parar de poluir nossos rios e nossas cidades. Esse é um eixo importante para discutir com os turistas e com nossa comunidade, inclusive porque nossa saúde também está sendo prejudicada. É da natureza que vem nosso alimento, ela dá vida pra gente”, enfatiza.
“Precisamos resistir. Valorizar a diversidade, porque somos diversas. Precisamos ter compromisso para que tudo que planejamos venha a acontecer. E precisamos lutar, porque a luta sempre fez parte da nossa vida, sempre vai estar nos acompanhando. É preciso união e comunhão para conquistar o direito à vida’”, conclui Alicia Morais.
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